O Twitter vai acabar? Entenda o que vem acontecendo na rede social de Elon Musk
Desde a aquisição de Elon Musk, o Twitter enfrenta uma onda de caos em gestão e na dinâmica da rede social. A plataforma foi tomada por contas fakes, agora com selo de verificado garantido pelo Twitter Blue, milhares de funcionários foram demitidos de uma hora para outra e o patrão discute (e às vezes ironiza) seus próprios empregados publicamente usando seu perfil pessoal no site.
Nesta quinta-feira (17), essa novela recebeu mais um capítulo: os escritórios do Twitter foram fechados e todas as credenciais de acesso foram suspensas até o dia 21 de novembro. A decisão, segundo a repórter do Platformer Zoë Schiffer, teria sido tomada para evitar que funcionários revoltados (ou recém-demitidos) tentassem sabotar a companhia. Nesse meio tempo, a empresa se certificaria de interromper os acessos corretos.
O caos no ambiente de trabalho somado às decisões desastrosas que bagunçaram a rede social chacoalham a popularidade do Twitter, apesar de Elon Musk garantir de forma recorrente que o site bate recorde de acessos. Será que, por isso tudo, o Twitter pode acabar?
Crise de dentro para fora
Uma das primeiras coisas que Elon Musk tratou de fazer ao tomar posse do Twitter foi enxugar o quadro de funcionários. Inicialmente, os rumores apontavam para o corte de 3,7 mil trabalhadores, mas não se sabe o número exato de rescisões. No Brasil, dos 150 colaboradores que companhia mantinha por aqui, estima-se que restaram algo entre 20 ou 30.
Há poucos dias, a canetada atingiu os contractors, uma modalidade de emprego similar à Pessoa Jurídica (PJ) no Brasil. O corte afetou entre 4,4 mil e 5,5 mil trabalhadores.
Além do desconforto e da tensão gerada nos funcionários que restaram na empresa, é natural que os serviços sofram com a ausência de tantos colaboradores. Na “primeira leva” de demissões, funcionários responsáveis pelo destaque de posts no topo da guia Explorar foram cortados, deixando a tarefa para colaboradores que restaram na empresa.
Os cortes também afetaram funcionários que questionaram o novo patrão. O repórter do Platformer Casey Newton noticiou que “colaboradores que criticaram Elon Musk nos chats do [mensageiro corporativo] Slack foram demitidos durante a noite, via e-mail”. A justificativa, segundo o comunicado em texto, era de que “o comportamento do colaborador violou a política da empresa”, sem dar maiores detalhes.
O ego de Elon Musk também gerou um atrito público com um dos desenvolvedores da plataforma. Após se queixar do desempenho do app do Passarinho para Android, o programador Eric Frohnhoefer rebateu o patrão publicamente e teve seus acessos interrompidos logo no dia seguinte. A briga dividiu opiniões na rede social, com algumas pessoas elogiando a postura do colaborador, enquanto outros aplaudiam o bilionário.
O caos do lado de fora
Não dá para negar que o Twitter vive um período turbulento também do lado de fora. Desde a liberação do Twitter Blue com selo de verificado em 9 de novembro, a plataforma foi tomada por farsantes que, agora, conseguem enganar usuários desatentos com o selo de verificação obtido pela assinatura.
Golpes, piadas de mau gosto e várias sátiras surgiram a partir desse dia. Além disso, a instabilidade do serviço, interrompido dias depois, também gerou insatisfação para os usuários, agora impossibilitados de contratar a assinatura. O antítodo para isso deve ser a impossibilidade de assinar o Twitter Blue durante 90 dias para novos usuários.
Essa crise, novamente, tende a ser culpa de Musk. Sob o regime antigo, o Twitter não lançaria uma função tão importante (como uma assinatura com selo de verificação) sem passar por um extenso período de testes com usuários selecionados de regiões específicas. O período experimental serve para observar como a comunidade reage a introdução de algum recurso — indicando, inclusive, quando ele é uma má ideia.
Anunciantes foram embora
A turbulência que permeia o Twitter também assustou anunciantes, atualmente a principal fonte de receita da rede social. A GroupM, parte da WPP, a maior empresa de publicidade do mundo e principal anunciante do Passarinho Azul, considerou a divulgação de anúncios na rede uma atividade de “alto risco”.
Segundo a empresa, a principal preocupação está na gestão de Musk. Em documento enviado aos clientes, a empresa menciona o grande número de demissões, principalmente o corte dos principais executivos do Twitter de áreas de segurança e moderação de conteúdo — cruciais para a plataforma.
A enxurrada de contas verificadas falsas também incomodou a companhia de publicidade. A agência acredita que a rede social pode ter dificuldade para seguir as diretrizes da Federal Trade Commission (FTC), órgão de regulação do comércio dos Estados Unidos.
“Nas últimas semanas, o novo CEO do Twitter, Elon Musk, tomou medidas alarmantes que minaram a integridade e a segurança da plataforma e anunciou novos recursos, apesar dos avisos claros de que essas mudanças seriam usadas para fraude, golpes e falsificação de identidades”, disseram senadores dos Estados Unidos, em carta enviada ao FTC nesta quinta (18).
Os desdobramentos desse imbróglio com o órgão regulador norte-americano são incertos, mas Elon Musk não tem medo. A equipe de advogados do bilionário até ironiza a situação: “Elon Musk coloca foguetes no espaço. Ele não tem medo da FTC”.
O Twitter vai acabar?
O fim de uma rede social acontece por várias razões, mas a principal delas é a debandada de usuários: quando não mais consegue atender seu propósito base, um site começa a perder força frente a concorrência e, eventualmente, é deixado de lado — foi o que aconteceu com o Orkut, por exemplo.
Porém, a migração de usuários é a consequência de decisões ruins, seja pela falta de implementação de novidades ou mudança de tendências no mercado de redes sociais. No caso do Twitter, uma eventual debandada aconteceria pelas implicações da crise gerada por Elon Musk — que, se seguir nesse ritmo, pode colocar o app em estado crítico bem rápido.
É impossível, porém, cravar o destino do Twitter. É possível que a gestão de Elon Musk melhore após alguns meses dentro do Passarinho Azul e que a nova equipe consiga colocar a plataforma em ordem depois de um tempo.